Porque Ushuaia mexe tanto com o imaginário das pessoas? Será por estar no extremo sul do continente americano? Os ventos implacáveis? O isolamento? O Frio ou por sua beleza? Refizemos o caminho do Brasil até la e posso afirmar que é por tudo isso e muito mais.
Primeira vez que estive la foi em 2014 com meu amigo Joel Bigode. Ushuaia foi minha primeira grande viagem de moto, sim, a primeira e fui logo de cara para o Fin Del Mundo e voltei. Passamos alguns perrengues mas conseguimos finalizar a viagem sãos e salvos, as motos um pouco danificadas, mas inteiras.
Essa viagem agora foi completamente diferente. Estava com 10 clientes, responsabilidade muito maior por estar conduzindo um grupo, trabalhando e não apenas passeando, tínhamos um cronograma seguir, um planejamento e como sendo a primeira em grupo, ainda estava sendo testado.
Nossa entrada na Patagonia foi como sempre por Santa Rosa, porém desta vez optamos por não ficar em Bariloche e sim e Esquel, alguns quilómetros a frente. Ali ficamos por dois dias e aproveitamos pra explorar o entorno, graças ao Peretti e suas maluquices encontramos um novo amigo em Trevellin, o Queque da Patagonia Bush Pillots, um maluco e experiente piloto de avião que nos levou pra um sobrevoo pelo incrível entorno da cidade, uma experiencia que ja esta agendada pra próxima viagem.
Descansados em Esquel partimos para um dos dias mais duros da viagem, eram apenas 594km até Los Antigos, porém o frio, o vento e as condições da Ruta 40 nesse trecho fizeram a viagem virar uma grande aventura que nos consumiu o dia todo, descansamos e então nos preparamos para o dia mais aguardado, percorrer os famosos 73 Malditos.
Cabe aqui um parênteses que acho necessário abordarmos. Precisamos parar de assim denominar esse trecho da viagem. São 73 km de rípio sim, mas nem todo o trecho é ruim. Difícil mesmo foram 3km, não mais que isso e o peso que esse nome adquire na cabeça das pessoas é impressionante, assustador pra falar a verdade. Fazer terrorismo ou assustar as pessoas com um nome deste, só gera ansiedade e em nada ajuda ao atravessa-lo.
Partimos em direção a Gobernador Gregores, entrada para os 73 Incríveis, e realmente, lá é a parte mais bonita desse desértico trecho da Ruta 40, lá é selvagem, é isolado, tem sua beleza, o vento? Claro estava presente e dificultou um pouco a travessia. Todos conseguimos sair de lá, uns no carro de apoio, mas tudo bem, afinal é pra isso que ele serve e pra isso que ele esta ali, pra ajudar quando necessário. Ressalto aqui o cuidado que se deve ter na escolha do horário a se passar lá. Quanto mais cedo melhor, quanto mais tarde mais vento e mais perigoso fica. Final do dia estávamos em El Chaltén e meu amigo, uma coisa vou te contar, ja estivemos em lugares bonitos e diferentes, mas El Chaltén é diferente de tudo com certeza na próxima vamos dar um tempinho a mais por la.
Deste ponto em diante da viagem é que ela ficou realmente bonita, fomos para El Calafate, Glaciar Perito Moreno, as estancias, os restaurantes, um dos principais destinos de Treeking do mundo e realmente o mundo está la. Em pouco tempo pelas ruas você ouve todas as línguas. Isso igualmente acontece em muitos outros lugares da Argentina, o que nos mostra quão rico esse lindo país é.
De El Calafate cruzamos o Paso Internacional Rio Don Guillermo e entramos na Patagonia Chilena, era hora de cruzar o Parque Nacional Torres del Paine. No começo ele estava tímido, encoberto de nuvens, parecia que não iria se mostrar, mas no fim ele revelou-se e tivemos a sorte de vislumbrar um dos lugares mais lindos do mundo. Ali as montanhas, os rios, os glaciares, os animais e a vegetação formam um conjunto difícil de descrever. Ali também percebi que estamos às margens do Campo de Hielo Sur que é um dos maiores campos de gelo do mundo, resquício ainda da ultima Era Glacial e que escorre das montanhas em varias direções entre Chile e Argentina.
Pernoitamos em Puerto Natales e então fizemos nossa incursão final a Terra del Fuego e o ataque final a Ushuaia. Outro dia abençoados pelo vento Patagônico que por vezes parecia que iria arremessar as motos pra fora da pista. Cruzamos o Estreito de Magalhães e chegamos em Ushuaia ao fim do dia. Ali naquele momento um misto de emoções tomou conta de todos. Já nesse momento, tenho certeza que todos descobriram o porque estavam ali e o porque Ushuaia é tão desejada. Já na chegada todos lembramos de tudo o que passamos pra estar ali, todos os desafios, todos os km, todos os perrengues, todas as preocupações, o tempo fora de casa, a saudade, mas ali estávamos, em Ushuaia, no Fin Del Mundo, lugar que para alguns talvez baste ir uma vez. Eu, já não vejo a hora de estar la novamente.